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Campinas, São Paulo, Brazil
Psicólogo Clínico Junguiano com formação pela Unicamp, terapia corporal Reichiana, Hipnoterapeuta com formação em Hipnose Ericksoniana com Stephen Gilligan.E outras formações com Ericksonianos: Ernest Rossi, Teresa Robles, Betty Alice Erickson. Formação em Constelação Familiar Sistémica pelo Instituto de Filosofia Prática da Alemanha. Uma rica e inovadora terapia divulgada em toda Europa. Professor de Hipnoterapia, além de ministrar cursos de Auto-conhecimento como Eneagrama da Personalidade e Workshop de Constelação Familiar Sistémica em todo o Brasil. Clínica em Campinas-SP. Rua Pilar do Sul, 173 Chácara da Barra. Campinas-SP F.(19) 997153536

Uma relação de ajuda

Como é bela, intensa e libertadora é a experiência de se aprender a ajudar o outro. É impossível descrever-se a necessidade imensa que têm as pessoas de serem realmente ouvidas, levadas a sério, compreendidas.
A psicologia de nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a atenção para esse aspecto. Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que alguém pode falar tudo a seu próprio respeito, como uma criança fala tudo "a sua mãe.
Ninguém pode se desenvolver livremente nesse mundo, sem encontrar uma vida plena, pelo menos...
Aquele que se quiser perceber com clareza deve se abrir a um confidente, escolhido livremente e merecedor de tal confiança.
Ouça todas a conversas desse mundo, tanto entre nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos.
Paul Tournier.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Augustine

AugustinePor um dessas particularidades do esforço humano de compreensão, Charcot acabou entrando na história das ideias a reboque de Freud. Compreende-se. Sigmund Freud, pai da psicanálise, acabou se tornando muito mais influente do que este médico francês com o qual foi estudar, ainda muito jovem, em Paris.


No entanto, Charcot tem uma posição inabalável na história da psiquiatria, em particular, no estudo dos distúrbios então chamados de histéricos. Ele as atendia no hospital parisiense La Salpêtrière, onde Freud estagiou no final do século 19. Foi lá, em contato com essas doentes, que os primeiros estalos a respeito do inconsciente e da cura psicanalítica vieram à mente de Freud.

Em Augustine, o papel principal é atribuído a uma histérica, vivida por Stéphanie Sokolinski. Vincent Lindon é Charcot e Chiara Mastroianni interpreta sua esposa, Constance. O ano é 1885 e Augustine, jovem provinciana que trabalha numa casa de família, luta para controlar seus ataques, que surgem sem que haja explicação aparente. É levada para tratamento com Charcot, que, dizem, traz métodos revolucionários para o tratamento desses males misteriosos. Entre outras novidades, faz uso da hipnose para aliviar os sintomas das doentes. Sim, “as” doentes, porque todas as acometidas por esses males de origem desconhecida são mulheres. Hysteron quer dizer útero.

O filme dirigido por Alice Wincour é então a história de uma cura? Nem tanto. Poderia ser melhor descrito como a história de uma tentativa de compreensão daquilo que não se conhece. Isso, por parte de Charcot. E, de uma “doença” misteriosa, causada, provavelmente, pela repressão muito forte da sexualidade.

Pois é isso que Charcot logo descobre, meio sem querer – os sintomas exibidos, a teatralização dessas queixas pelas histéricas encobre um significado sexual próximo do explícito. É o que Charcot vê, mas também não consegue enxergar porque é homem limitado por seu tempo e seu horizonte cultural como parte do corpo médico. De certo modo, o que ele não vê é o que será enxergado por seu discípulo mais famoso e que, exatamente por isso, dará um passo mais largo no conhecimento da mente humana.

Alice Wincour dirige esse drama do sofrimento psíquico com sobriedade. Às vezes até com certo peso, mas é essa atmosfera mesmo que associamos à sociedade burguesa e repressiva da Europa do século 19, época justamente em que a histeria faz sua aparição um tanto de través no mundo médico. Se para a medicina tradicional da época elas eram apenas fingidoras, para uma mente mais aguda, como a de Charcot, eram apenas doentes. 
E que, com sua doença, poderiam ensinar algo sobre a natureza humana. Inclusive que o desejo pode se manifestar sob a forma de dor e sofrimento, o que apenas em aparência seria uma contradição.

Fonte. Luiz Zanin

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Auto-conceito

O auto-conceito é o conhecimento de si mesmo que o construtivismo estrutura em sua inteligência e expressa, aqui e agora, como atitude positiva ou negativa diante de sua auto-imagem, sendo um ato de inteligência, iminentemente Cognitivo.
O auto-conceito vem sendo estruturado desde a infância, pela quantidade e qualidade das interações em que cada um de nos tem com o meio, estruturando e reestruturando continuamente, um conhecimento de mim mesmo, uma concepção, um conceito de mim mesmo, um auto (de mim mesmo), conhecimento (conceito), no presente e, eventualmente, em relação ao futuro.
Um posicionamento que informa uma atitude, estabelecendo uma postura, aqui e agora; e dura o tempo de um juízo sobre mim mesmo: “eu sou um fracasso”, o que penso; a idéia que faço; como me percebo, me vejo; o que acho de mim; tomada de consciência; um posicionamento; uma atitude (valorização); uma postura; uma concepção; um conceito.
Podemos entender o auto-conceito, como a expressão do conhecimento que o indivíduo elabora de si mesmo, qualquer que seja a validade, a procedência e a amplitude de abrangência deste conhecimento: real, verdadeiro, parcial, fragmentário. Na construção do auto-Conceito, o sujeito busca uma avaliação de si mesmo, um juízo de valor ou uma desvalorização, implicando um posicionamento, uma postura, uma atitude diante de si mesmo, de acordo que com a construção de sua Auto-Imagem; assim sendo, o ato de conhecer-a-mim-mesmo é uma cognição construída diante de meu retrato, de minha Auto-Imagem.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Teoria das motivações

Segundo Maslow a pirâmide sugere que todo ser humano possui necessidade internas a serem atendidas, de um nível mais simples até um mais complexo. As necessidades fisiológicas dizem respeito a questões como alimentação, moradia, vestuário, dentro outras. Quando as necessidades fisiológicas estão razoavelmente satisfeitas, aparece uma nova categoria: necessidades de segurança. Como exemplo desse tipo de necessidades, encontramos proteção, preferência por um trabalho estável, reservas financeiras para o futuro, algum tipo de religião ou filosofia que fortaleçam a fé e a crença.
Quando os dois primeiros tipos de necessidades estão satisfeitos, aparecem as de amor e afeto. A pessoa sentirá necessidade de amigos, relacionamentos afetivos, parentes e integração nos grupos a que pertence.
Satisfeitas pelo menos parcialmente as necessidades de amor, a pessoa sente também a necessidade de fortalecer a sua auto-estima e de receber a estima dos outros. Essas necessidades têm os seguintes significados:
  • Auto-Estima: desejo de força, realização, suficiência, domínio, competência, confiança, independência e liberdade.
  • Estima dos outros: desejo de reputação e prestígio, dominação, reconhecimento, atenção, importância ou apreço dos demais. A satisfação das necessidades de estima leva ao desenvolvimento de sentimento de autoconfiança, capacidade de ser útil e ser necessário para os outros.
Por outro lado, sua frustração produzirá sentimentos de impotência e inferioridade podendo levar a pessoa a apresentar, inclusive, manifestações neuróticas.
Por fim, quando todas as demais necessidades estão satisfeitas, surge uma mais elevada, a de auto-realização. Isso implica querer realizar suas potencialidades, com um sentido de plenitude do ser, com desejos de autodesenvolvimento e autoconhecimento.
Ainda de acordo com o autor citado, acreditava que as pessoas só passavam de um degrau ao outro na escala de necessidade se o anterior estivesse satisfeito. No entanto, estudos mais modernos mostram que isso não é rígido assim, podendo variar de pessoa para pessoa.
Herzbeg avançou nos estudos de Maslow e se voltou aos aspectos mais ligados ao trabalho. Este autor considera as necessidades fisiológicas e de segurança como fatores higiênicos (se não satisfeitos, geram insatisfação, ao passo que, se satisfeitos, não geram satisfação). Nesse sentido, salários, benefícios e condições físicas de trabalho inadequado podem causar insatisfação e, se adequados, podem não motivar as pessoas.
Várias situações podem exemplificar o que foi dito, pois quando observamos o nosso Congresso Nacional, fica claro que, se salário fosse fator motivacional, teríamos sempre a casa lotada em todas as plenárias. E como explicar o envolvimento de pessoas que, sem receber salário algum, se comprometem de corpo e alma com causas sociais, instituições filantrópicas e outros movimentos?
Ainda segundo Herzberg, as necessidades afetivo-sociais, de estima e de auto-realização compõem o que ele chamou de fatores motivacionais. São estes que produzem efeitos duradouros nas pessoas, e englobam sentimentos profundos de satisfação, realização, crescimento e reconhecimento. É na atender essas necessidades que observamos surgir o fenômeno da motivação como uma força interna, uma energia interior própria e exclusiva do ser humano.
Podemos dizer que a motivação existe em função do nosso desejo interno de objetivos do mundo exterior. Desejando o conforto ou o prazer que um bem nos proporciona (por exemplo, carro novo, uma roupa nova etc), desejamos a estima e a aceitação das pessoas, desejamos nos desenvolver, e os nossos desejos são infindáveis. Isso nos coloca numa busca constante: a satisfação de uma necessidade não nos paralisa, ao contrário, desencadeia dentro de nós outra necessidade a ser suprida, e lá vamos nós atrás dela.
O estado de carência ou o desejo provoca em nós uma conduta de buscar sua satisfação. Ao se dar o encontro da necessidade com o seu correspondente fator motivacional, Herzberg considera que tenha ocorrido o “ato motivacional” rumo a um objetivo e, por conseguinte, a satisfação obtida pela saciação da necessidade.
A motivação é uma força interior (energia) que nos move a uma ação (motivos para ação), com a finalidade de alcançar um objetivo e realizar nossos desejos internos; é um conjunto de MOTIVOS que leva um ser humano a empreender uma determinada AÇÃO. MOTIVAÇÃO = MOTIVO à AÇÃO.
Segundo Good e Mcdowell, a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa, e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não consegue jamais motivar alguém; o que ela pode fazer é estimulara outra pessoa.
E os autores finalizam dizendo que, a ação de uma pessoa está diretamente ligada à força de um desejo, isto propõe que as pessoas façam as coisas como e quando querem, e que a motivação possui uma liberdade e autonomia. Entende-se assim que a motivação seja um impulso que venha de dentro, e que tem, portanto suas fontes de energia no interior de cada pessoa.
Alderfer propõe uma hierarquia modificada de necessidades que apresenta somente três níveis. Inicialmente as pessoas têm interesse de satisfazer suas necessidades de existência, como fisiológicos e de segurança, tais como salário, condições físicas no ambiente de trabalho, segurança no cargo e plano de benefícios. Vindo a seguir a necessidade de relacionamento, isto é, envolver-se compreendido e aceito por pessoas no trabalho, e fora dele.
Por último aparece a necessidade de crescimento, envolvendo tanto de desejo de auto-estima como de auto-realização. O autor aceita a possibilidade de que os três níveis estejam ativos a todo o momento, e o seu modelo (E-R-G) não assume com rigor no progresso de nível para nível, e quando ocorre insatisfação do nível acima, pode retornar a concentrar no nível mais baixo.
A auto-motivação é conseqüente de um processo de auto-conhecimento, onde aumentamos a percepção do mundo exterior, estabelecendo metas e objetivos de nossa vida. O nível de motivação será sentido pelos nossos atos, nossas ações, que tocam o mais íntimo de nosso ser, que recebemos dos estímulos externos, e que serão interpretadas por nossas referências internalizadas.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Como motivar as pessoas

Como sabemos a motivação é um processo interno no ser humano, sendo que cada pessoa possui uma maneira própria de sentir, de perceber as coisas, pois vem de um processo interacional com o mundo que o cerca, de seu auto-conhecimento. Portanto a sua auto-estima é a percepção de conteúdos que ele adquiriu durante toda sua vida, de sua auto-imagem que veio sendo formada.
O comportamento motivacional dos seres humanos não é uniforme, mesmo que essencialmente as carências sejam as mesmas. As formas como elas se apresentam e a sua importância relativa são diferentes de indivíduo para indivíduo, pois seus comportamentos estão relacionados, como suas carências foram ou não satisfeitos; construindo uma personalidade, ou seja, um comportamento motivacional padrão que difere uma pessoa como única, diferente das demais.
Quando o ser humano sofre uma pressão externa para exercer determinadas tarefas, com um aumento de stress, em um ambiente hostil, não ocorre um processo motivacional, pois quando o indivíduo é energizado inadequadamente, o resultado final é a insatisfação, descontentamento, ou mesmo ausência de resultados.
A empresa não pode motivar seus funcionários, já que motivação é uma força interna, uma energia que nos move a uma ação (motivos para ação), com uma finalidade de alcançar um objetivo e realizar nossos desejos internos.
Então como conseguir que os colaboradores se motivem? Sem deixar que eles se desmotivem. O líder eficaz não mais concentra sua energia em motivar as pessoas, mas em reduzir ou eliminar fatores que possam vir a desmotivá-las. Ele tem que ter claro que ações como não cumprimentá-los, chamar a atenção na frente de outros, invadirem espaços previamente definidos, não saber ouvir e ser empático, designar duas pessoas simultaneamente para realizar a mesma tarefa, comparar desempenho de uma pessoa com outra, dentro outras, são ações que desmotivam.
Por outro lado, os incentivos e estímulos aos colaboradores são fundamentais, ativando um processo motivacional. Quando é apresentada às pessoas uma visão clara do futuro da organização como um todo, e todos sabem onde, como e quando a empresa quer chegar mais especificamente do trabalho a ser realizado, dando-lhes ainda a dimensão e a oportunidade de encarar e vencer os desafios.
Reconhecer um trabalho quando é bem realizado, sem paternalismo, demonstrar sentimentos pelas pessoas, promover uma integração das pessoas e proporcionar feed-backs construtivos são elementos poderosos para se atender as necessidades afetivo-sociais. A comunicação é aberta e as relações transparentes, e as pessoas se sentem à vontade para expor idéias, são livres para fazer críticas ou apresentar sugestões, e têm autonomia para pores em prática novas maneiras de fazer o trabalho.
Oferecer oportunidades reais de crescimento profissional para todos os funcionários, investindo no desenvolvimento profissional e pessoal, pois poucas coisas motivam mais as pessoas que perceber que a empresa está apostando nelas. Perceber-se participante integral desse processo como um todo, sendo valorizado e estimulado a crescer, leva ao profundo sentimento de realização, despertando a busca do autoconhecimento e do autodesenvolvimento. A energia interior gerada se exterioriza sob a forma de ações, atitudes que demonstram comprometimento com as metas e resultados a serem conquistados.
O mais rico produto que uma organização possui, são seus recursos humanos, sendo que ela necessita que todas as pessoas possuam um mesmo pensamento, um mesmo determinismo, agindo de forma harmônica para atingir uma meta, sendo competitiva, e de qualidade, onde cada membro da equipe exerça o seu papel corretamente, e incentive e seja incentivado pelos demais.
Nós podemos perceber esse sentimento de equipe, essa união, que conjuntamente harmoniosa e motivadora, onde cada membro da organização se sente útil, trabalhando para atingir o resultado, sem deixar de ser solidário.

domingo, 11 de agosto de 2013

A linguagem do amor

Casais apaixonados ou que mantêm um relacionamento de longo prazo não raro se atribuem apelidos carinhosos ou mudam o tom de voz quando falam um com o outro. Segundo pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, a identidade afetiva por meio das palavras não para por aí. Um estudo conduzido pelo psicólogo James Pennebaker mostra que pares “bem-sucedidos” ou com mais chances de sê-lo costumam usar o mesmo tipo de palavras funcionais – preposições, pronomes, artigos e conjunções – e com frequência equivalente. Usados em vários contextos, esses termos são, em geral, processados de forma rápida e inconsciente.

Para chegar a essa conclusão, o psicólogo reuniu 80 homens e mulheres e solicitou que cada um conversasse com alguém do sexo oposto por alguns minutos. Em seguida, questionou-os sobre a possibilidade de saírem juntos. Curiosamente, os pares que usaram tipos similares de palavras funcionais se mostraram mais inclinados a marcar outro encontro – mesmo aqueles que declararam não ter muitos pontos em comum.

Em outro estudo, Pennebaker analisou o conteúdo de mensagens de celular enviadas por 86 casais e perguntou aos voluntários quão felizes eles se sentiam com o compromisso assumido. Três meses depois, o pesquisador verificou se os pares ainda estavam juntos. Ele observou que os pares estáveis eram os que trocavam torpedos com mais palavras funcionais em comum. O curioso é que isso se aplicou também a quem declarou estar insatisfeito com o companheiro, na primeira fase da pesquisa.

Agora os pesquisadores querem entender se o vocabulário em comum provoca atração ou se na verdade as pessoas adaptam sua forma de falar, ficando parecidas com o outro. Os dois processos são possíveis, mas Pennebaker acredita que o último seja mais provável: “A linguagem prediz o sucesso dos relacionamentos porque reflete a forma como os casais ouvem um ao outro e se entendem”, reforça o psicólogo.

Facebook, o novo espelho de Narciso II

DITADURA DA ESPONTANEIDADE

Nesse novo ambiente o artificialismo e a mistificação da imagem passam a ser “out”. Deusas etéreas cedem espaço a mulheres que querem ser vistas como “reais”: escovam os dentes, fazem caretas para a câmera, dirigem seu carro e não se importam em ser fotografadas em momentos que antes estariam à margem da esfera pública. Tanto que 42% das usuárias do Facebook admitem a publicação de fotos em que estejam embriagadas e 79% delas não veem problemas em expor fotos em que apareçam beijando outra pessoa. A regra é: quanto mais caseiro, “mais natural”; melhor. O que não significa que essa imagem seja, efetivamente, “natural”, mas que há agora um “gerenciamento da espontaneidade”.

O imperativo da representação feminina nas redes sociais é: “seja espontâneo”. Uma norma paradoxal, assim como a afirmação “seja desobediente, é uma ordem”, escreve o sociólogo Régis Debray. Ele faz uma interessante leitura do que poderíamos chamar de “ditadura da espontaneidade”. Segundo o autor, abandonamos o culto da morte, vivido pelas sociedades tradicionais e religiosas, para vivermos o “culto da vida pela vida” – uma espécie de “divinização do que é vivo” que se apoia no eterno presente e não mais em uma crença no além.

Vemos emergir mulheres que cultuam o que veem no espelho e postam, “religiosamente”, novas imagens de seu cotidiano – sem que tal culto resulte em algum tipo de censura externa ou de autocensura moral. Em outro contexto, como durante o período em que a religião católica era dominante, esse “culto de si” e ao corpo seria considerado um dos sete pecados: a vaidade. Esse imaginário, aliás, é muito bem representado por um quadro do séc. 15, de Hieronymus Bosch, no qual o demônio segura um espelho para que uma jovem se penteie.

Hoje o novo espelho global não é marcado pela vigilância moral. Ao contrário, há um contínuo incentivo da cultura para que as mulheres “se valorizem”, busquem sua singularidade e não se baseiem mais em modelos inalcançáveis (como as top models e outras famosas). E para que percebam em si mesmas uma possibilidade legítima e singular de ser no mundo.
A própria familiaridade e aproximação da mulher com o universo da produção de auto-representações pode levá-la a questioná-las. As mulheres já estão, como escreve Lipovetsky em seu livro A tela global, “cultivadas” pela mídia. Educadas em sua gramática, sabem que o photoshop, a produção e a edição das imagens criam uma mulher irreal e passam a ver essas representações “entre aspas”, distanciando-se criticamente delas. Elas aprendem com recursos autoexplicativos a modelar sua iconografia, a alterá-la, brincar com ela ou melhorá-la (possibilidades, antes, restritas aos profissionais).

Mas a consagração do “culto de si” não significou um isolamento da mulher. Os álbuns publicados nas redes sociais conciliam, contra todas as expectativas, o individualismo e as trocas. Um se alimenta do outro. Há um ciclo: exponho minha individualidade, acompanho a do outro e ele a minha e, assim, somos incentivados a produzir e expor, cada vez mais, as nossas imagens. Trata-se do nascimento de uma “identidade coletiva”, em que a individualidade não elimina a interação, mas é seu motor. Nesse sentido, a identidade coletiva não é produto apenas de uma adesão grupal e sim uma forma de negociação de posições subjetivas – esse é o paradoxo identitário a ser considerado.

Fotos pessoais e “amigos” virtuais (ou não) ditam o ritmo desse espaço interativo. Quanto mais caseiro, mais cotidiano, mais espontâneo, maior o número de relações entre as pessoas, que passam a valorizar a autenticidade e a vida de quem é “próximo”, “real”. Há, na base desse fenômeno, uma democratização dos desejos de expressão individual na medida em que as mulheres buscam conquistar espaços de autonomia pessoal – que traduzem a necessidade de escapar à simples condição de consumidoras daquilo que outros produzem. Elas querem colocar seu rosto no mundo. Aparecer ou não na “tela global” passa a ser uma questão de existência. Por essa razão, ter visibilidade e oferecer sua identidade publicamente é conferir importância à própria existência. O que é, também, uma forma de poder. Nesse ponto a mídia – como campo de visibilidade – passa a ter papel central para entendermos a luta simbólica pelo reconhecimento.

No entanto, essa “democratização” da auto-representação feminina não deve ser tomada como sinônimo do fim da competição estética e ética entre as mulheres. O que tudo indica, o que presenciamos não é a instauração de uma igualdade, mas a ampliação do número de mulheres na disputa por visibilidade e poder. Amplia-se, assim, a arena para buscar um poder que não está dado de antemão, mas que deve ser conquistado e manejado pela apresentação e representação de suas singularidades, de suas diferenças. Um agir que se manifesta na criação, no controle e no poder simbólico de sua própria imagem no espaço público, que só se realiza com o reconhecimento do outro nas interações sociais, associativas e na ampliação dos círculos de reconhecimento que estão dentro e fora do espaço de produção da imagem. 
Fonte. Revista Mente cérebro

Facebook, o novo espelho de Narciso

As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia, enquanto eles gastam uma hora, em média. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitas delas, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% delas já se declaram, sim, dependentes da rede. Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 principais sites de relacionamentos.

Essas são algumas revelações da pesquisa feita pelas empresas Oxygen Media e Lightspeed Research, que analisou os hábitos on-line de 1.605 adultos ao longo de 2010. Mas cabe ainda perguntar: que motivos levam as mulheres a ficar tanto tempo na frente do computador? Vaidade? Necessidade de reconhecimento? Seria esse fenômeno uma nova forma de autoafirmação? Uma maneira de desenvolver sua individualidade aliada ao reconhecimento do outro? Será essa uma nova forma de buscar sociabilização?

Mais do que procurar uma resposta fácil, cabe, antes, compreender por que a auto-representação é mais importante para as mulheres que para os homens. Historicamente as representações femininas foram fabricadas por motivações sociais diversas: míticas, religiosas, políticas, patriarcais, estéticas, sexuais e econômicas. E, há mais de vinte séculos, essa fabricação esteve sob o poder masculino. As mulheres não produziam suas próprias imagens, eram retratadas.

Em obras de arte célebres vemos inúmeras Vênus adormecidas, (como as de Giorgione, 1509; Ticiano, 1538 e Manet, 1863); Madonas castas (nas imagens religiosas das catedrais católicas como as pintadas por Giotto, no século13, e Botticelli, no 15) ou mulheres burguesas no espaço doméstico cuidando da cozinha e da educação dos filhos (como as pintadas por Rapin e Backer no século 19). Eram cenas “pedagógicas”, que ensinavam o valor da maternidade, da castidade, da beleza e da passividade.
vênus adormecida, óleo sobre tela, giorgione, 1508-10, galeria dos grandes mestres da pintura, dresden
A estética feminina foi estabelecida, durante muitos séculos, pelo olhar masculino; as obras de arte tinham cunho “pedagógico”, com a intenção de ensinar como as mulheres deveriam ser
O pano de fundo dessas produções artísticas era uma tentativa masculina de “gerenciar” o imaginário feminino, transmitindo sugestões sobre a conduta social desejada até uma estética sexual e familiar. Como enfatiza a historiadora Anna Higonnet “os arquétipos femininos eram muito mais do que o reflexo dos ideais de beleza; eles constituíam modelos de comportamento”. Sua capacidade de persuasão era ativada pelo contexto cultural. Um exemplo pontual, mas significativo, pode ilustrar essa hipótese. O nu é quase sinônimo do “nu feminino”. Do Império Romano, passando pelo Renascimento, pela Modernidade e até os dias de hoje, o corpo da mulher reflete os ideais estéticos predominantes.

A historiadora francesa Michelle Perrot chegou a afirmar que “a mulher é, antes de tudo, uma imagem”. Aqui sua ênfase é irônica. Refere-se a uma forma de retratar que associava os cuidados com o corpo, os adornos, as vestimentas e a beleza em geral à atividade, ou melhor, à ociosidade tipicamente feminina”, enquanto os homens deveriam se ocupar de tarefas consideradas sérias: política, economia e trabalho.

Quando a era moderna pareceu, enfim, trazer a emancipação da mulher, a conquista revelou-se contraditória. Estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Com a ajuda do photoshop, top models, estrelas de televisão e cantoras exibem nos meios de comunicação o êxito que conquistaram em todos os aspectos do sucesso – o que, na prática, nem sempre é verdade. Elas, em geral, são tão “irreais” quanto a Vênus grega. A verdade é que a mídia veicula uma série de estereótipos sobre como agir que se tornam um peso para a mulher. Não devemos nos esquecer de que quem assume o comando é o mercado interessado em vender roupas, revistas e produtos destinados ao público feminino – e não propriamente a mulher. Assim, mesmo no século 20, quando pareciam ganhar “autonomia”, elas passaram a ser atormentadas por padrões estabelecidos por outra base imaginária: a do consumo.
O que muda no século 21 para as mulheres que utilizam as redes sociais? Quanto à importância da imagem, nada. Ela -continua a ter papel central para a identidade social feminina, confundindo-se com ela. Por outro lado, vivemos, sim, uma revolução: pela primeira vez a mulher passa a se autorrepresentar, a produzir representações de si publicamente. Essa produção não está mais sob o domínio exclusivo dos homens, nem restrita a um grupo de mulheres como as artistas (atrizes, fotógrafas, cineastas, pintoras, escultoras etc.) ou as modelos. As mulheres comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. Algumas marcas de câmeras fotográficas desenvolveram inclusive um visor frontal para que a pessoa possa ajustar o foco caso use o equipamento para se fotografar.

A mulher “hipermoderna” reivindica algo novo: o seu protagonismo público e sua “autenticidade”. O que se soma, agora, à revolução tecnológica da sociedade capitalista. Com acesso facilitado a câmeras digitais, a telefones móveis que dispõem desse equipamento e à rede, além da existência de uma plataforma que dá suporte ao armazenamento e oferece possibilidades ao usuário para compartilhar essas imagens pela internet, a mulher passa a se autofotografar nas mais diversas ocasiões, de situações corriqueiras a viagens. Nas palavras do filósofo Gilles Lipovetsky: “O retrato do indivíduo hipermoderno não é construído sob uma visão excepcional. Ele afirma um estilo de vida cada vez mais comum, ‘com a compulsão de comunicação e conexão’, mas também como marketing em de si, cada um lutando para ganhar novos ‘amigos’ para destacar seu ‘perfil’ por meio de seus gostos, fotos e viagens. Uma espécie de autoestética, um espelho de Narciso na nova tela global”. 
Fonte. Revista Mente cérebro.
Isabelle Anchieta