Este é, muitas vezes, o momento mais difícil para um terapeuta, pois nesse ponto ele nada pode fazer, nem sabe para onde o conduzirá a dinâmica da constelação. Talvez seja tentado a formular pensamentos, a compatibilizar a imagem com as informações que já possui ou a refletir como irá proceder. Talvez se coloque sob pressão, coma se passasse a depender dele o sucesso ou o insucesso da constelação. Talvez também fique com medo diante do que possa surgir ou não surgir, ou então se entregue a uma segurança precipitada sobre a forma de achar logo uma solução. Porém o que importa agora é aquilo que Bert Hellinger chama de olhar fenomenológico: um olhar “sem saber”, “sem intenção”, “sem medo”. Este é também um momento profundo de participação naquilo que muitas vezes toca uma família no mais íntimo; o olhar e a percepção do terapeuta (e também dos representantes) são acompanhados de respeito e gratidão por poder participar.
Esse primeiro momento silencioso de uma constelação, antes que os representantes comecem a ser interrogados, é de grande importância. Ele é necessário para que se tome consciência daquilo que a alma do grupo está disposta a manifestar.
Quanto tempo deve durar esse silêncio, é algo que o terapeuta geralmente percebe com muita precisão. O silêncio é sustentado por uma força que vai se construindo, por uma tensão e, às vezes, por uma profunda comoção, que vem à tona durante a representação e também mobiliza o terapeuta e o grupo. Quando o terapeuta começa a fazer perguntas cedo demais, o fator que mobiliza não pode desenvolver-se e o processo da constelação fica superficial ou torna-se cansativo. Freqüentemente o terapeuta não confia no próprio olhar e por conseguinte “necessita” dos representantes e do que eles dizem. Isto, porém, pode sepultar a confiança, no terapeuta. Por outro lado, quando ele espera por um tempo longo demais, a energia da tensão se dissipa e os representantes ficam inquietos e impacientes ou caem num processo que os tira da dinâmica da família que representam e os leva para uma dinâmica pessoal, que então pode falsificar o processo da constelação.
Nem sempre, é verdade, a atitude de deixar que a representação atue resulta numa dinâmica poderosa. Algumas constelações só desenvolvem sua força e sua dinâmica com os passos posteriores. Isso acontece principalmente quando ainda não foram colocadas pessoas decisivas para a dinâmica familiar ou faltam informações importantes. Assim, o terapeuta não deve se deixar perturbar ou desencorajar quando a imagem de uma constelação não apresenta inicialmente profundidade. Embora seja às vezes aconselhável interromper a representação já no princípio, vale a pena, em primeiro lugar, insistir na continuação do processo e confiar em seu bom êxito
Às vezes aparecem, desde o início, reações estranhas nos representantes. Certa vez, um homem colocou sua família de origem. Mal havia acabado de posicionar os representantes quando estes começaram a cochichar e a rir, e não houve meio de fazêlos parar. O homem ficou muito perturbado e confuso e o terapeuta já pensava em interromper o trabalho, quando uma voz interior o aconselhou a presenciar o riso por mais algum tempo. Então ele perguntou ao homem: “O que aconteceu no casamento de seus pais?” Pois algo na imagem lhe fazia lembrar uma companhia de convidados num casamento. O homem respondeu: “Certa vez me contaram que no casamento de meus pais apareceu uma mulher com uma filha de uns vinte anos. Diante de toda a assistência, ela caminhou até minha mãe, mostrou-lhe a mão da filha e disse: “Esse anel na mão de minha filha foi dado a ela de presente por seu marido, junto com a promessa de casamento”. Ao ouvir este relato, os representantes repentinamente silenciaram. O terapeuta introduziu então representantes dessa mulher e de sua filha, que tinham sido supostamente ridicularizadas, e agora elas foram olhadas com emoção.
© Jakob Robert Schneider
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