Quem sou eu

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Campinas, São Paulo, Brazil
Psicólogo Clínico Junguiano com formação pela Unicamp, terapia corporal Reichiana, Hipnoterapeuta com formação em Hipnose Ericksoniana com Stephen Gilligan.E outras formações com Ericksonianos: Ernest Rossi, Teresa Robles, Betty Alice Erickson. Formação em Constelação Familiar Sistémica pelo Instituto de Filosofia Prática da Alemanha. Uma rica e inovadora terapia divulgada em toda Europa. Professor de Hipnoterapia, além de ministrar cursos de Auto-conhecimento como Eneagrama da Personalidade e Workshop de Constelação Familiar Sistémica em todo o Brasil. Clínica em Campinas-SP. Rua Pilar do Sul, 173 Chácara da Barra. Campinas-SP F.(19) 997153536

Uma relação de ajuda

Como é bela, intensa e libertadora é a experiência de se aprender a ajudar o outro. É impossível descrever-se a necessidade imensa que têm as pessoas de serem realmente ouvidas, levadas a sério, compreendidas.
A psicologia de nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a atenção para esse aspecto. Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que alguém pode falar tudo a seu próprio respeito, como uma criança fala tudo "a sua mãe.
Ninguém pode se desenvolver livremente nesse mundo, sem encontrar uma vida plena, pelo menos...
Aquele que se quiser perceber com clareza deve se abrir a um confidente, escolhido livremente e merecedor de tal confiança.
Ouça todas a conversas desse mundo, tanto entre nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos.
Paul Tournier.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Conflitos étnicos e reconciliação.

Bert Hellinger
na Forham University, 4 de Outubro de 2004

Texto traduzido por Décio Fábio de Oliveira Júnior com a permissão expressa do Sr. Dan Booth Cohen, conforme o original em inglês no site http://www.hiddensolution.com/whatsnew.htm

* A raiz do conflito étnico é uma "Boa consciência"
* Primeira Demonstração
* Observações sobre a primeira demonstração
* Perguntas
* Segunda Demonstração
* Observações sobre a Segunda Demonstração

A raiz do conflito étnico é uma "Boa Consciência"

Qual é a origem dos conflitos étnicos ? Se você olhar para isto bem de perto , você ficará surpreso ao perceber que na raiz de todos estes grandes conflitos está uma "boa consciência". Todos estes conflitos obtêm sua energia de uma boa consciência.

Nós somos ensinados desde a mais tenra infância , que nós temos que seguir nossa consciência. Algumas pessoas chegam a dizer que a consciência é a voz de Deus em nossa alma. Mas uma olhada bem superficial na consciência no mostra que pessoas de diferentes famílias e diferentes culturas têm diferentes consciências em relação a nós. Muito freqüentemente, seguindo sua própria boa consciência elas expressarão diferentes valores, apresentarão diferentes comportamentos e manterão diferentes atitudes do que nós teríamos dentro de nossa própria família e nossa própria cultura.

Um teste bem fácil para verificar isto: quando você vai até seu pai, você tem uma consciência diferente do que quando você vai até a sua mãe. Se você fica perto da mãe você se sente de má consciência em relação a seu pai. Se você fica perto do pai você se sente de má consciência em relação a sua mãe.

Assim, a consciência, na verdade, não nos diz o que é bom ou mau. Ela nos diz o que nós temos de fazer de modo a pertencer a um grupo particular ou a uma pessoa particular. A consciência tem uma função básica: ela nos liga nossa família de origem, especialmente a este grupo que é essencial para a nossa sobrevivência. Deste modo, quando nós seguimos nossa consciência, não é uma consciência pessoal, é a consciência de nosso grupo. Se nós seguimos tal consciência, nós nos sentimos seguros dentro de nosso próprio grupo.

Mas ao mesmo tempo que a consciência nos liga a nosso grupo, ela nos separa de outro grupo. Assim, divisões, entre pessoas e famílias e grupos maiores, vêm da boa consciência. Esta consciência é um pré-requisito para a sobrevivência. Para nossa sobrevivência e para a sobrevivência de nosso grupo.

Se há um inimigo de for a, ameaçando nosso grupo, a consciência se torna muito ativa e nos liga bem próximos a nosso grupo e mobiliza a energia para lutar com os outros pelo bem da sobrevivência de nosso próprio grupo. Se você olha para estes conflitos, você vê que ambos os lados têm uma boa consciência. Ambos os lados sentem que sua consciência é a voz de Deus. Sua causa é algo sagrado. Isto é o motivo pelo qual os conflitos entre grupos são defendidos como uma guerra santa. Sempre, uma guerra santa. Muito estranho, hum ?

A pergunta agora é: Nós podemos achar caminhos que podem superar os limites de nossa própria boa consciência e incluir dentro de nossas almas e nossos corações os valores de outras pessoas? Então nós teremos de ter uma má consciência. Através de ter uma má consciência nós podemos amar mais do que antes. Por causa deste tipo de amor, que vem da boa consciência, diz ao mesmo tempo , "Sim e não". O amor que leva à reconciliação seria o amor que pode dizer "Sim" para todo mundo e para tudo.

Isto não é politicamente factível. Os líderes políticos tem de seguir a consciência de seus grupos. Nós não podemos esperar deles que cruzem as fronteiras de sua boa consciência. Nos tempos recentes, há dois líderes políticos que fizeram isto, o presidente Sadat do Egito e o primeiro ministro Rabin de Israel. Ambos foram mortos por seu próprio povo que agiu de boa consciência, é claro. Superar as fronteiras de nosso próprio grupo é perigoso. Nós temos que saber disto.

Uma vez que você seguiu sua consciência, você não mais pode ver as outras pessoas. Voe nunca as vê. Elas são apenas "Os inimigos, os outros, o outro grupo". Deste modo a paz começa quando nós vemos as outras pessoas, nossos inimigos, como seres humanos exatamente como nós somos.

Todos os esforços para servir à paz têm de ser feitos bem devagar. Tem de começar na alma. Primeiro de tudo em nossa própria alma e então nós podemos encontrar outros que se unem em um certo movimento de paz. Isto pode alcançar momentum e ao longo do tempo alcançar alguma coisa boa a serviço da paz.

Primeira Demonstração

Aqui, eu gostaria de demonstrar o que acontece se nós seguimos nossa boa consciência e se nós vamos além do limite de nossa consciência. Eu farei algo que pode ser muito radical. Eu tomarei algumas pessoas para representar vítimas do Holocausto e algumas pessoas para representar os assassinos do Holocausto. Deixaremos que elas fiquem face-a-face. Nós olharemos o que acontece se nós permitimos a elas olharem-se mutuamente.

Eu preciso de cinco representantes para as vítimas do Holocausto. Alguém se dispõe? [Seleciona então os representantes] Você fica aqui. Só fiquem de pé, lado a lado. Então eu tomarei cinco representantes para os assassinos. [Seleciona os representantes].

[Hellinger coloca a linha de vítimas de frente para uma linha de agressores. Ele não dá nenhuma explicação adicional ou instruções. Isto não é um psicodrama ou uma encenação. Os representantes não falam nada. Após algum tempo, eles começam a exibir reações. Alguns começam a chorar, alguns se tornam fracos e caem, alguns se viram, alguns se movem para perto dos outros e alguns apenas ficam de pé, no lugar.

Hellinger permite o processo se desenvolver por cerca de 10 minutos. Então ele traz alguns representantes para cada lado, que ficam atrás dos outros. Ele não diz a eles nada, mas à medida que o processo se desenvolve eles podem ver os representantes dos descendentes das vítimas e dos agressores. Após algum tempo, eles também começam a reagir de vários modos.

O processo inteiro dura mais de 20 minutos sem nenhuma fala. Lágrimas fluem livremente, dos representantes das vítimas , dos agressores, dos descentes de dos observadores da audiência. Nós vemos que muito lentamente, os membros das duas linhas originais se misturaram uma com a outra. Muitos, mas não todos, se abraçaram em pequenos grupos. Alguns deitaram no chão sozinhos. Ninguém ficou imóvel.]

Eu acho que aqui eu posso interromper isto.

Observações sobre a primeira demonstração

Eu direi algo sobre o procedimento. Se nós não interferirmos com qualquer julgamento ou intenções, então em uma constelação como esta, os representantes são movidos por uma força mais profunda. Isto é "a alma" em um sentido muito mais amplo do que nós usualmente falamos sobre ela. Os movimentos básicos da alma são sempre os mesmos. Eles unem o que foi antes separado. Você pode ver isto muito lindamente.

Aqui alguma coisa muito importante aconteceu. Um dos agressores não pode ir. Nós o vimos ficar de pé dom seus pulsos cerrados. O jovem homem lá , obviamente, era um descendente de um agressor. Nós pudemos ver isto. Quando o agressor virou-se para seu descendente, o jovem homem veio e colocou sua mão no ombro do velho homem. Isto foi o começo de um movimento onde ele poderia se abrandar. O agressor não pode ficar brando a menos que ele seja amado. Isto foi mostrado. Não há mudança a menos que os agressores também sejam olhados como seres humanos que seguem sua consciência assim como os outros o fazem. Isto precisa ser reconhecido, que eles são chamados por um destino especial, como outros também.

No final, nenhum grupo mais, apenas pessoas. Apenas pessoas conectadas pelo amor e pelo profundo pesar que vocês puderam ver aqui, pelo que aconteceu. A principal força que traz paz entre pessoas e nações querelantes é um pesar compartilhado por aquilo que aconteceu .

Eu quero apontar algo muito importante. Alguma coisa que está no caminho da paz. Muitos daqueles que sofreram, ou que pertencem ao grupo que sofreu muito, estão com raiva dos agressores. Eles reprovam-nos. Eles não querem esquecer de nenhuma forma. O que acontece ? Aqueles que rejeitam os agressores em sua alma se tornam como eles. Subitamente, eles têm a energia dos agressores e continuam o conflito de alguma forma a sua volta. Como a roda que gira, mas é sempre a mesma, sem nenhuma solução. Além do mais, aqueles que são reprovados são reforçados em sua agressão. Assim, todas as acusações e todas as reclamações pelos sobreviventes dos conflitos étnicos contra os agressores apenas alcançam o propósito oposto ao qual almejam. Eles permanecem no caminho da reconciliação.

Uma vez que nós compreendemos isto e permitimo-nos em nossas almas desejar o bem a cada pessoa, mesmo aos agressores, mesmo àqueles que cometeram injustiças contra nós, mesmo na vida cotidiana, se nós aprendemos isto, nós crescemos. Se nós adotamos esta atitude nossa simples presença em uma dada situação promoverá a reconciliação e a paz. Há duas sentenças ditas por Jesus que explicam o que isto significa no final. Ele disse, " Tenha clemência, como meu pai no Céu; ele faz o sol nascer sobre os bons e os maus , igualmente. E Ele deixa a chuva cair sobre os justos e injustos, igualmente." Esta é a paz de Deus, realmente.

Perguntas

P: Houve um representante das vítimas que se moveu para longe dos outros. Quanto mais longe ele caminhou para longe, mais ele parecia colapsar. Enquanto isto, os representantes que se aproximaram dos agressores permaneceram de pé e eventualmente se moveram em harmonia com os outros. Eu me preocupo com o que aconteceu com o representante da vítima que se afastou.

Hellinger: Eu primeiro direi algo sobre todo o processo. Cada representante é um indivíduo que está sintonizado como alguma coisa por si mesmo. Nós não podemos explicar seus movimentos. Foi assim como foi, isto é tudo. E ainda, nós pudemos ver estes movimentos revelar algo sobre as forças internas que influenciam aqueles que tem experimentado contato com o Holocausto.

Neste exemplo, nós podemos ver que muito freqüentemente os descendentes das vítimas do Holocausto querem morrer. Muitos deles são atraídos para a morte. Aqui voê pôde ver um exemplo. Aqueles que são ousados o suficiente para encontrar os agressores, estes tem força. Você pôde ver isto também. Muito estranho, de fato. Isto é como é. Isto não foi planejado ou imaginado de forma alguma. Isto não pode ser imaginado. Algo da profundidade simplesmente surge, e vem à luz e nos é mostrado. Nós só assistimos.

P: Os representantes não usam quaisquer palavras. O que , em termos do procedimento, significa esta falta de diálogos ?

Hellinger: Estes movimentos só podem ser revelados sem o uso de palavras. Só então as profundezas da alma se movem. Muito freqüentemente nós queremos desafiar ou questionar aquilo que vemos porque nós temos em mente a idéia que isto deveria ser de uma certa forma. Se nós ouvimos estas idéias, somos cortados da conexão com estes movimentos profundos, imediatamente. Isto só pode ser feito sem palavras. E isto mostra que não há interferências de fora. Assim que usamos palavras, vocês são desconectados dos movimentos.

P: Você instrui os representantes para não falar?
Hellinger: Você viu, desde que eu não disse nada, eles não disseram nada também.
P: Você usou a palavra "consciência" para descrever a consciência baseada no pertencimento a um grupo particular que freqüentemente se vira , então, contra um outro grupo. Me parece que há também uma consciência baseada na identificação com toda a raça humana. Estas pessoas trabalham para a paz mundial. Pode não existir uma consciência como esta? Um grupo comprometido ce pessoas que são amantes da paz e não se identificam com um grupo religioso, nacional ou étnico particular, mas com a humanidade como um todo?
Hellinger: A consciência tem a ver com pertencimento. Pertencimento a um pequeno grupo ou à humanidade como um todo, sintonizar-se com o mundo como um todo. A consciência pessoal é sentida como culpada ou inocente; é como ela se mostra. Ela dirige nossas ações e comportamentos por meio destes sentimentos. Podemos também sentir o que é ficar em sintonia com todas as pessoas. Estar em sintonia é percebido como um sentimento de calma e centramento. Não estar em sintonia é sentido como intranqüilidade. Se nós trabalhamos para a paz, e nós somos muito calmos, confiamos no movimento maior do qual nós somos uma parte, então nós nos sentimos muito calmos e centrados. Então nós não temos nenhuma ansiedade. Tão logo as pessoas se tornam ansiosas e desejosas de alcançar algo, elas seguem sua consciência pessoal. Elas não estão em sintonia. Quando nós estamos em sintonia como o todo, estamos centrados. Nós confiamos que as coisas se desenvolverão no tempo devido; nós não nos apressamos. Deste modo o teste é: estamos calmos ou inquietos ?

Uma outra coisa a se notar é que quando você segue sua consciência pessoal e se sente ligado a seu grupo, você se sente conectado em uma relação muito íntima. Uma vez que você estiver em sintonia com a humanidade, você perde esta intimidade. Você está aberto ao amplo; você está conectado, mas não intimamente. Há um preço a ser pago. Você se sente de certa forma sozinho, ainda que conectado.

P: Como o pesar promove a reconciliação ? Além do sentimento de pesar, que outros promovem a paz?
Hellinger: A vida está sempre se movendo para a frente. O pesar é só por um curto tempo. Pela experiência do pesar [do luto], algo do passado se completa. Então você se move para a frente. Se nós carregamos nosso pesar e remorso conosco todo o tempo, nós perdemos nossa própria vida. Na alma, se estamos em conexão com aqueles com quem estivemos previamente em oposição, e compartilhamos juntos o pesar, então podemos estar completos. Então podemos nos mover para a frente com a vida, sem a necessidade de vingar os erros do passado na próxima geração.

Muito freqüentemente, as pessoas rejeitam algo em si mesmas. Chamam isto de sua sombra, ou o que quer que seja. Nossa alma contém uma imagem ou um reflexo da história de nossa família, nossa cultura, nossa religião, nossa raça, nossa nacionalidade. O que quer que seja que rejeitemos em nós mesmos, representa uma pessoa rejeitada. Muitas doenças, por exemplo, são conexões ocultas com uma pessoa excluída dentro de nosso sistema familiar. Se esta pessoa excluída é tomada em nosso coração, a doença pode ir. Muito freqüentemente.

A reconciliação começa em nossa alma. Quando o que quer que seja que rejeitamos, ou do qual temos vergonha é reconhecido e mesmo amado, então nós podemos nos tornar mais completos e em paz. Infelizmente, isto significa também que temos de deixar de lado nossa boa consciência.

Segunda Demonstração

Hellinger coloca uma segunda demonstração. Dez vítimas do Holocausto Armênio-Turco deitam-se no chão no centro do círculo. Eles são margeados de cada lado por cinco representantes dos descentes das vítimas armênias e cinco representantes dos agressores turcos. Nenhuma instrução adicional é dada.

Após vinte minutos, muitos representantes se movem em grupos com alguns de cada lado juntando-se para lamentar os mortos. Muitos estão chorando; no final estes grupos começam a rir juntos.

Observações sobre a segunda demonstração

Olhando para esta constelação, nós podemos ver como é difícil alcançar a reconciliação no final. Muito difícil. É muito difícil alcançar isto em larga escala. Só é possível entre uns poucos indivíduos. O principal obstáculo é que os descendentes de ambos os lados estão ligados a suas consciências. Mesmo agora, após tantos anos, eles estão ligados a suas consciências.

Há um importante aspecto a ser levado em consideração. Muitas pessoas que sofreram muito, como os armênios, ou na América do Sul, os índios, os incas ou os escravos nos Estados Unidos, e os nativos americanos especialmente, eles estão ligados por aquilo que aconteceu no passado. Sua energia é atraída do presente para o passado. Há uma esperança secreta que algo que foi terrivelmente mau no passado possa ser refeito e corrigido, até mesmo desfeito totalmente. Este desejo de mudar o passado impede os descendentes de olharem para frente.

Na Alemanha, nós freqüentemente encontramos com israelenses para discutir o Holocausto Judaico-Alemão. Eles nos dizem que nós nunca devemos esquecer o que aconteceu. Eles dizem, "Nunca esqueça." Mas quando você faz isto, nada pode acabar. Por relembrar o passado, sempre repensando o que aconteceu, a energia é removida da vida presente. O que acontece àqueles descendentes que são admoestados a se lembrar ? Eles ficam com raiva. Então, justamente o oposto daquilo que se deseja obter é alcançado.

Na última demonstração, se os turcos que vivem hoje são forçados a expressar remorso e arrependimento por terem matado os armênios noventa anos atrás, eles se recusarão a fazê-lo e ficarão resistentes e hostis. Eles não poderão ficar brandos. O conflito continua e nunca poderá terminar.

Ano passado eu trabalhei na Flórida. Havia uma mulher no workshop que disse que se sentia desconectada de seu corpo. Ela sentia como se sua cabeça estivesse cortada do resto dela. Eu soube que ela era uma inca peruana. Então eu pensei no rei inca que foi decapitado pelos conquistadores espanhóis. Eu coloquei alguns representantes do povo inca deitados no chão. Então eu tomei um representante para o rei inca. Também coloquei três representantes para os conquistadores espanhóis. Eu coloquei esta mulher com eles. Após um momento, ela se moveu e uniu-se aos mortos, especialmente ao rei inca. Ela queria revivê-lo. Mas de fato, ele não podia ser ressuscitado. Ele apenas afundou mais e mais profundamente. Quando a mulher viu que nada podia ser feito, absolutamente nada, aí realmente acabou. Ela foi até os representantes dos espanhóis e segurou a mão de um deles. Então começou a chorar. Eles ficaram brandos.

No dia seguinte, ela me escreveu uma carta dizendo que ela era uma descendente direta do último rei inca. Através desta experiência, ficou claro para ela que qualquer tentativa de reviver o passado priva a geração presente de seu futuro.

Em alguns dias eu estarei indo ao Canadá onde eu fui convidado por um grupo de pessoas nativas a trabalhar com elas. Todos eles perderam suas terras e costumes tradicionais e eles também vêem que não há nenhum caminho para o futuro a menos que seja permitido encerrar o passado.

Há muitos obstáculos que ficam no caminho dos indivíduos deixarem o passado para trás. Um deles é a consciência, como eu já disse. Outro é o desejo de justiça. Nós todos temos uma premência para que algo tenha de ser equilibrado. Dar e tomar, ganhar e perder tem de ser colocados em equilíbrio. Este é um desejo forte e é muito útil para as relações humanas. Mas não é útil de forma alguma quando nós tentamos forçar a justiça na história. Assim, muitas guerras são iniciadas de modo a fazer justiça para aqueles que já morreram ou punir os mortos que cometeram crimes no passado. Isto nunca foi alcançado. Nunca !

Justiça, nessas circunstâncias, é uma grande ilusão. Isto está no fundo de muitos conflitos. Para criar paz nós temos que deixar de lado nosso desejo de justiça dirigido ao passado. De outro modo, o conflito futuro é inevitável.

Justiça é uma preocupação só dos vivos. Os mortos, cujo destino nós podemos querer vingar, não podem ser ajudados desta forma. A busca por alcançar a justiça para aqueles que sofreram e morreram nos dá o sentimento de que nós estamos fazendo a coisa certa; isto nos deixa de boa consciência. Mas o efeito é continuar uma luta sem fim.

Estes são alguns dos insights que vieram deste tipo de trabalho que eu demonstrei. Como vocês viram, não há nenhuma influência de fora. As camadas profundas da alma funcionam de uma forma diferente de nossos desejos e de nossa consciência. Se nós aprendemos a confiar nestes movimentos e vamos com eles, alcançamos algo e deixamos muita coisa ir embora.

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